Foi nessa sexta feira que a jornalista Nana Queiroz, depois do resultado de uma pesquisa que mostrou que pouco mais de 65% da população brasileira afirmou que "mulher que mostra o corpo merece ser estuprada", organizou uma mobilização via internet que tinha como propósito mulheres tirarem fotos nuas, vestidas, de qualquer forma, com os dizeres "#eunãomereçoserestuprada". O intuito, creio eu, era mostrar a esses inacreditáveis 65% que não, o modo como nos vestimos e nos mostramos não é um convite, uma desculpa, uma justificativa para não só estupro, como qualquer violação, seja esta moral ou física.
Eu, como sempre dou total apoio a luta contra o machismo e à violência, seja essa contra a mulher ou qualquer outro grupo, fiz minha parte e publiquei uma foto para a campanha. Com minha ingenuidade, ou pelo fato de acreditar de ter, em maior parte, amigos que compartilham esse mesmo ideal, pensei que não haveria ninguém ali para me julgar ou me contradizer. Erro meu, apesar das cento e tantas curtidas, recebi comentários ofensivos e que tinham como intenção me ridicularizar.
Quem me conhece, sabe que não sou de dar muita bola quanto a opinião de terceiros, mas isso doeu. E dói. Não dói por ter sido comigo. Dói por ter sido comigo e com centenas de outras que receberam, acreditem se quiser, ameaças de estupro - a própria Nana Queiroz passou por isso.
Eu não consigo, de maneira alguma, ver um ponto engraçado em toda essa situação. Você acha que o protesto não vai mudar nada? Tudo bem. Você não precisa ser idiota o bastante pra tentar desmerecer ninguém que, diferente de você, faz uma coisa - mesmo que remota - pra tentar reverter essa situação.
Não tive a intenção de mudar a cabeça de estupradores, afinal, quem sou eu pra mudar o pensamento de alguém que tem uma mente tão ruim e doente? A única coisa que quis foi mostrar para essa grande parte da população que não, eu não mereço ser estuprada pelo modo que me visto e não, isso não é justificativa para um estupro. Eu posso estar ali com meu moletom e minha calça jeans ou minha saia e minha blusa decotada que isso não vai mudar a mente de um cara que já tem esse pensamento de estuprar.
Não quis acreditar que uma pessoa, uma pessoa mesmo, que nem eu, comparou o meu corpo com bens materiais, afirmando que não se anda com carteira aberta, como se a violação do meu corpo, que me traria seríssimos traumas psicológicos, uma dor que eu NUNCA iria esquecer, à perda de 10, 20, 100, 1000 reais, coisa que eu sentiria falta mas em questão de dias iria me conformar.
Como resposta, um de meus grandes professores - Gilmar, que me dá aulas de sociologia e filosofia, aulas essas que têm importância na minha formação de pensamentos disse o seguinte: "Não conheço a sua formação e não me sinto à vontade para opinar sobre qualquer que ela seja. Se for psicologia, uma nobre profissão, seria interessante a cena. Imaginemos. Uma moça recém violentada que chega para uma consulta, um acompanhamento, etc...Ela diz: "Senhor profissional, fui violentada". O nobre responde: "Não esquenta, semana passada roubaram minha carteira..." e eu não poderia dar um melhor exemplo. Corpo e dinheiro nunca devem ser colocado num mesmo nível.
Eu só queria dizer que eu, sozinha, não vou mudar o mundo e nem mudar a mente de centenas de milhares de pessoas. Mas, juntas, essas pessoas que tiveram esse comportamento quanto ao nosso protesto, podem retardar essa mudança que eu e tantos queremos que ocorra, e fazer de todos nós, uma população cada vez mais conformada.
(um obrigada a todos que me apoiaram e que sei que vão apoiar sempre.)
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